- Mas é a tristeza que me move!
E fez-se o silêncio. Simplesmente todos pensaram estar presenciando a loucura. Como que pode ser? Ora, acaso é este um degenerado, não orgulhoso dos pais e de deus? Ninguém tinha compreendido aquelas palavras senão como um insulto à busca constante da felicidade que a nós motiva.
- Busca da felicidade?- interrogou, em verdade, a si mesmo. Nem mesmo sabem o que é e tratam de torná-la a razão de suas vidas? Muitas perguntas...
- Bom, acaso já foste ter com Dr. Alceu?- disse a mulher.
- Sim. Se bem que ele chorou, mas, quando quis que rezássemos, fui-me embora.
- Que o Nosso Senhor tenha paciência, Bertiogga!
Que tenha paciência mesmo, cogitava o menino.
Mas os anos passaram e Bertiogga jamais procurou a felicidade. Lia, escrevia, compunha letras lindas. Poucas delas chegou a exibir. Na maioria, estavam todas retidas no armário que guarnecia seu breve cômodo. Aos trinta anos casou. Com o romance, não achou a felicidade. Separou-se. Não que tivesse contraído o idílio com vista a procurar aquela felicidade. Não, não era isso. Como disse, jamais procurou a felicidade.
Contudo, no dia em que dava milho aos pombos, ali mesmo no cenário da Sexta com a Chapada, eis que a felicidade sentou-se ao seu lado no banco, não tendo senão ele percebido sua presença, acompanhada sempre de um cheio invasivo de rosa. Rosa vermelha e no ponto de ser colhida.
- Felicidade?
- Não sei como me reconheces!- exclamou o sentimento, e juro que houve tristeza no tom da felicidade.
- Que quer?
[continua].
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