sexta-feira, 19 de outubro de 2012

From Fleet Street

Existe um barbeiro na Brasil Oeste com o qual, tacitamente, tenho um pacto: não falar sobre nossa vida pessoal. É tácito porque foi criado pelos fatos, pela experiência. Tem a natureza de um pacto porque, principalmente, é respeitado sem maiores questionamentos. Todavia, pela parte dele há sempre um início de transgressão, que sempre me pede a mesma coisa: e o trabalho como está? Não há, é claro, um interesse ínsito na pergunta, mas, acredito, uma tentativa de fidelização da clientela- algo como que 'somos íntimos, e íntimos devem contar os cabelos uns com os outros'. Mas este homem não é muito curioso, a meu despeito. Jamais se interessou em saber o que faço, o que não faço e se, realmente tenho um trabalho. Mas eu, sempre respondo que está tudo bem e, é claro, para evitar maiores chateações. Por isso a história do pacto, já que o fato de ele não ir além da pergunta inicial pressupõe que exista um acordo entre nós. Para mim isso é curioso. Não ser curioso, na verdade, para mim é um defeito. Não que eu goste de falar da vida pessoal; não gosto. Mas não manter o interesse pelos outros ou pelos fatos é despretensioso demais. Daí que ali, na Brasil Oeste, só corto o cabelo mesmo. Sem confidências.

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