terça-feira, 25 de setembro de 2012

Fragmento

Algumas das coisas mais bizarras que saíram dos meus dedos foram escritas enquanto o poente era o centro das atenções e, ainda, enquanto se podia ouvir qualquer gemido animal desembocando, para contrabalançar, do nascente então despercebido.
O sol é uma laranja neste tempo e momento, enquanto que o calor lhe vai sendo reduzido pela aragem que o crepúsculo traz. Para o poeta surrealista, essas poucas ofertas da natureza não dão causa à arte, mas apenas regozijam e tornam a alma saudosista. Ora, talvez nem mesmo saudosista, já que nem toda memória, quando recuperada de um passado mais longo, ressuscita boas coisas. Mas a memória, enquanto tal, não é responsável pelos sentimentos que evoca no poeta e em pessoa nenhuma.
Em verdade, para este pobre poeta surrealista, esse bucolismo que espreita entre a criação divina e a consciência conceitualizada do mundo não lhe serve de matéria prima (inspiração), já que a sua ideologia lhe suplanta a envergadura das motivações. Mas o poeta, como regra, é livre em relação a elas, às suas inspirações. Não o é em relação ao momento em que surgem, mas sim em relação aos prospectos e a sua efetiva transformação em arte.
A arte, por seu turno, se é para alguns o em si e para si da essência consciente do humano, para outros é abstração. Ocorre que simplesmente abstração é também um em si e para si essente, já que não se exige da arte, como conceito num primeiro compreender, que seja algo distinto da significação abstrata ou, para melhor por, que seja uma materialização par da ideia. Assim, se a arte é o em si e para si da essência é porque, afinal, comunga inicialmente com a abstração, de forma que as duas opiniões se aproximam.
Mas a dialética, nesse sentido, não restou completada, já que nenhum esforço despendeu. A razoabilidade exige que se tenha ao menos uma oposição posta no nível do compreender, e que não sejam suficientes as constatações ou análises puras. Essas análises puras ou entendimentos sensíveis elas mesmas são construções que os conceitos fazem entre si, como que exigindo tão somente uma soma simples de elementos que não precisam ser originados pela ideia reflexiva. A ideia reflexiva, nesse trabalho, tão somente contribui enquanto conferência da legitimidade e proceder do raciocínio, e é conhecida como lógica. Mas se deve negar à ideia reflexiva um trabalho mais autêntico no proceder da constatação ou comparação conceitual, custando que se ofereça à reflexibilidade imanente um trabalho tão pouco laborioso.
Como regra, esse elemento verificador que se atribui à reflexibilidade imanente não é mais do que um trabalho de habilidade do espírito.

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